Por Raquel Ulhôa e Murillo Camarotto, de Brasília e do Recife

Ciro: “O que é o PSB? Um ajuntamento como outros, ou a expressão de um pensar audacioso e idealista sobre o Brasil? ”

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) divulgou ontem, em seu site e em seu twitter, artigo em que cobra de forma incisiva do seu partido a decisão sobre o lançamento ou não de sua candidatura à Presidência da República, afirma que não desistirá, faz um desabafo por estar sem apoio político para a disputa e classifica como “amesquinhada, porém mutuamente conveniente” a polarização entre PT e PSDB.

“Jamais imaginei, após trinta anos de vida Pública, viver uma situação política como a em que me encontro. A pouco mais de 60 dias do prazo final para as convenções partidárias que formalizam as candidaturas às eleições gerais de 2010, não consigo entender o que quer de mim o meu partido, o Partido Socialista Brasileiro”, escreveu no artigo intitulado “A História Acabou?”.

“Considero meu dever com o Brasil, lutar até o fim”. Segundo Ciro, seis pessoas fechadas e isoladas em gabinetes de Brasília ou de São Paulo estão definindo todas as opções do processo eleitoral.

“Compreendemos os argumentos e a aflição do Ciro, mas o partido vai amadurecer sua decisão. A posição do partido também é difícil, porque tem de escolher entre uma candidatura para a qual não conquistamos aliados e outra posição política, que não traz vantagens políticas ao partido”, reagiu o senador Renato Casagrande (PSB-ES), secretário-geral do partido.

Uma fonte próxima ao deputado diz que, apesar de anunciarem oficialmente que estão com Ciro, alguns membros da Executiva do PSB não se esforçam em fazer a divulgação da pré-candidatura. “O Eduardo Campos tem peso nessa situação. Se ele quisesse, a coisa andava”.

No Palácio do Campo das Princesas, sede do governo pernambucano, a reação de Ciro foi vista com naturalidade. Segundo uma pessoa próxima a Eduardo Campos, o governador e presidente do PSB “não é um grande entusiasta” da candidatura própria à Presidência. “O PSB está dentro de um projeto de oito anos, que não é individual. E o governador está inclinado a apostar na manutenção desse projeto junto com o presidente Lula”, disse.

A amigos, Ciro afirmou ter divulgado o artigo porque é sua forma de lutar pela candidatura. Disse que o partido pode até desistir de lançar seu nome à disputa presidencial, mas quer deixar claro que a decisão não é dele. “Preciso mostrar o que sinto e que vou lutar até o fim”, disse a uma pessoa próxima com quem conversou ontem. Dirigentes do PSB reuniram-se informalmente na quarta-feira e discutiram a necessidade de definir logo a situação, para liberar os pré-candidatos do partido nos Estados e costurar suas alianças.

No artigo, Ciro pergunta: “A quem interessa tirar do povo as opções que no passado recente permitiram a um sindicalista chegar à presidência? A história acabou? Não há mais o que criticar ou discutir? Oito de Lula, quatro de Dilma, mais oito de Lula é o melhor que podemos construir pro futuro de nosso Pais? A única alternativa é voltar a turma da privataria como diz o Elio Gaspari ? E estas transas tenebrosas de PT com PMDB é o melhor que nossa política pode oferecer como exemplo de prática aos nossos jovens?”

Ciro lembrou que, segundo mostram as pesquisas de intenção de voto para presidente da República, ele “estaria falando por algo ao redor de 15 milhões de brasileiros, apesar de não dispor de nenhuma máquina como as portentosas estruturas do governo federal ou do governo de São Paulo”. Argumentou que o PSB só teria a ganhar, lançando uma candidatura própria, por ajudar o partido a crescer.

Ciro desafia o seu partido. “O que é o PSB? Um ajuntamento como tantos outros, ou a expressão de um pensar audacioso e idealista sobre o Brasil? Vai se decidir isto agora”, diz, garantindo que cumprirá a decisão tomada pela cúpula partidária. Mas avisou que não desistirá. Segundo fontes próximas a Ciro, no Ceará, o deputado já andava bastante insatisfeito com o tratamento dado pelo PSB à sua pré-candidatura. Entre as principais queixas está a falta de infraestrutura de campanha, como um avião e uma equipe mais azeitada de assessores.

Clique aqui para ir à matéria

(www.colunistasig.com.br/luisnassif)