Juazeiro do Norte. A estátua de quatro décadas e um dos maiores símbolos da religiosidade popular do Brasil, do Padre Cícero, no Horto, neste Município, poderá ser tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Pelo menos a primeira reunião, na tentativa de elaborar a instrução de tombamento, será realizada, na próxima semana, com historiadores, arquitetos e técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-CE) e da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A iniciativa poderá culminar com o marco de comemoração dos 100 anos de Juazeiro, cujo centenário será aberto no dia 17 deste mês. Após todos os levantamentos, que não têm data determinada para serem feitos, a proposta de tombamento será encaminhada para o Conselho Federal de Cultura, ligado ao Ministério da Cultura (Minc).

Na última quinta-feira, foi realizada, na reitoria da UFC, reunião com o superintendente do Iphan, José Clodoveu Arruda Coelho, o arquiteto do órgão, Francisco Augusto Sales Veloso, o reitor da UFC, Jesualdo Farias, e o administrador do Horto, padre José Venturelli, além de representantes dos cursos de História e Arquitetura da UFC. Na ocasião, a UFC se disponibilizou, junto com o Iphan, de realizar os trabalhos, relacionados a todos os levantamentos necessários para a elaboração da instrução de tombamento.

Neste documento estarão contidos, segundo o arquiteto, levantamentos históricos, físicos e topográficos. Visitas técnicas também serão feitas ao local. O material será recolhido e avaliado, para, só depois, a proposta ser analisada e aprovada pelo Conselho Federal de Cultura e publicado o parecer positivo no Diário Oficial, com assinatura no livro de tombo.

Conforme ele, nesta primeira reunião foram acordadas entre a UFC e o Iphan as intenções de desenvolvimento do processo. Esta semana, começa a ser constituída a equipe de trabalho. Além dessas instituições, ao longo do processo, outras entidades poderão estar inseridas, a partir das necessidades de trabalho que forem surgindo.

Para Veloso, a expectativa em relação ao tombamento da estátua é muito boa, pelo que o monumento representa, como símbolo para o Cariri, o Ceará e o Brasil. “Em 2008 estive em Alagoas e me deparei com uma réplica da estátua”, diz ele, ao destacar a influência do Padre Cícero, também internacional, com o trabalho de pesquisadores como Raph Della Cava.

Restauração



Já existem propostas de tombamento em andamento nas instâncias municipal e estadual, mas nada de concreto. Também foi encaminhado pelo Iphan para o Ministério da Cultura o projeto de restauração da estátua, ainda não iniciado. Em 2009, foram feitos alguns reparos nos dedos da mão direita do monumento, que tinha rachaduras. A imagem se tornou viva na fé do nordestino, um símbolo sagrado do romeiro. Na voz do “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga, ele aponta o seu olhar e dá mais brilho pela canção ao monumento mais conhecido do Nordeste. “Olha lá, no alto do Horto, ele tá vivo, o Padre não está morto…”. Considerado o terceiro maior monumento em concreto armado do mundo, são 28 metros, a partir da base.

O Horto passou a ser um dos principais pontos de visitação do romeiro nordestino. Tornou mais conhecida a figura mítica do Padre Cícero. O primeiro fato que contribuiu para a sua fama por todo o Nordeste foi o milagre protagonizado pela beata Maria de Araújo, com o sangramento da Hóstia, no ano de 1889. No dia 1º de novembro do ano passado, foram comemorados os 40 anos da estátua. A data também está reservada ao Dia do Romeiro. Do Horto, a imagem de Padre Cícero, o conselheiro das massas como é denominado por estudiosos, com o seu cajado na mão direita e o inseparável chapéu, na esquerda, lança o olhar protetor sobre o Cariri, de um dos pontos mais altos da região. De longe, um ponto branco em meio ao verde da serra. Poderia ser até maior, como diz o escritor Geraldo Menezes Barbosa, diante da constatação do coordenador da obra, Jaime Magalhães.

O escultura foi projetada pelo pernambucano Armando Lacerda. Ele não era um profissional do ramo, mas apresentou um projeto que foi logo aprovado pelo então prefeito Mauro Sampaio, em 1967.

(Diário do Nordeste)