
Em um ano, entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, o fluxo de veículos na Avenida Aguanambi aumentou 53,5%, passando de 41,3 mil para 63,4 mil por dia. Este salto a coloca em primeiro lugar no ranking das vias de maior fluxo médio diário em Fortaleza. A Washington Soares, que por vários anos liderou a lista, está em segundo lugar, com 60 mil veículos/dia. Os dados são da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC) e Departamento Estadual de Trânsito (Detran/CE) e foram divulgados nesta sexta-feira (20).
O que chama atenção é a Avenida Domingos Olímpio. Neste mesmo período, ela registrou um acréscimo de 70,8% no número de carro, motos, ônibus, caminhões, entre outros, que por ali trafegam. No ano passado, a via estava em quinto lugar no ranking, com 29,8 mil veículos. Neste ano, mais de 50 mil circulam por ela.
Logo depois, estão as avenidas Engenheiro Santana Júnior (49,3 mil/dia); Bezerra de Menezes (48,8 mil); Raul Barbosa (47,8 mil); Abolição (47,4mil); Borges de Melo (45,7mil/dia); 13 de Maio (43,4 mil); Oliveira Paiva (41 mil); Senador Carlos Jereissati – CE-402 – (40 mil/dia); Ministro José Américo de Almeida – CE-401 -(40 mil/dia); Godofredo Maciel (39, 6mil) e Maestro Lisboa -CE-025 – (20 mil veículos por dia).
O novo ranking traz mais novidades e deixa de fora, pelo menos das 14 primeiras colocações, vias tidas como as mais congestionadas da Capital, entre elas, a Santos Dumont, a Antônio Sales, a Barão de Studart e também a Rui Barbosa.
A professora Ana Flávia Pereira sabe bem o que é enfrentar congestionamentos tanto na hora de ira para o trabalho, como na volta para a casa. “Eu nem sei mais o que fazer para driblar tantos transtornos diários. É preciso paciência e, agora, costumo levar um livro para ler enquanto espero o trânsito andar pela Av. Aguanambi”, brinca ela.
Soluções
Para o engenheiro de transporte da Universidade Federal do Ceará (UFC), professor Mário Azevedo, não existe solução em nenhuma cidade do mundo – por mais que se prometa ou faça em obras de mobilidade em Fortaleza – enquanto não mudar o paradigma de que o carro dá status e poder e de que o transporte público da Capital não é satisfatório. “Fortaleza tem hoje quase um milhão de veículos, no entanto seu território não é ampliado e continua com os mesmo 314 Km². Então, a estratégia é simples, vamos deixar o automóvel em casa e circular de ônibus, metrô, de bicicleta ou a pé, preferencialmente, se os trechos forem curtos”, aconselha Azevedo.
Segundo ele, quem estuda engenharia de trânsito sabe que as avenidas Aguanambi e a Washington Soares são raios, da mesma forma que a Bezerra de Menezes, Sargento Hermínio, José Bastos, Gomes de Matos, BR-116. “Todas saem de pontos distantes para a área central, marcada por intenso fluxo e refluxo de pessoas, mercadorias e de capital e isso é complicado com cada vez mais veículos”.
Planejamento falho motiva caos
Na avaliação do coordenador do Núcleo de Atuação Especial de Controle, Fiscalização e Acompanhamento de Políticas do Trânsito (Naetran) do Ministério Público Estadual (MPE), Gilvan Melo, a frota de veículos em si não é motivo para o caos que enfrentamos todos os dias. Para ele, a falta de planejamento estratégico tanto da infraestrutura urbana quanto da fiscalização contribui quase 100% para os transtornos. “Misture aí as obras sem fim, motoristas inconsequentes e sem respeito ao próximo e às leis de trânsito e o cenário é esse aí que enfrentamos todos os dias”, aponta ele.
Gilvan Melo é um dos que preveem o colapso da mobilidade urbana e defende que chegou a hora do rodízio de veículos e mais incentivo ao transporte público. Além disso, argumenta, será preciso ações rigorosas com relação ao tráfego de caminhões, seja qual for o tamanho. “Sugiro a proibição deles não só no Centro ou Aldeota, mas em outros bairros como Montese, Parangaba, Água Fria, Maraponga e Messejana de 6h às 21h diariamente. Para isso, é preciso querer político e, torno a repetir, mais fiscalização. Sem isso fica complicado”, afirma.
Para o psicólogo especialista em trânsito José Jaques Cavalcante, além de tudo, o trânsito não é percebido como um fenômeno coletivo pelas pessoas. Segundo ele, há um individualismo exacerbado dos motoristas.
“As pessoas sempre acreditam que o problema é dos outros, que correm feito loucos, enquanto que elas mesmas só exageram um pouquinho”, analisa Cavalcante.
Lêda Gonçalves
Repórter