Os foliões acostumados a despencar no bairro Benfica agora mudarão de endereço. O bloco Luxo da Aldeia deixa a rua Padre Francisco Pinto, próximo à Praça da Gentilândia, e ocupa em 2015 o Mercado dos Pinhões, no Centro. A mudança, segundo os integrantes do coletivo carnavalesco, é motivada pelo aumento do fluxo de veículos nas ruas em que a festa ocorria até ano passado. Desde 2007 marcando as noites de sexta-feira do Pré-Carnaval, o Luxo já se apresenta na próxima sexta (16) na nova casa e segue nos dias 23 e 30 de janeiro e 6 de fevereiro, sempre das 19h às 22 horas.

“Estamos bem receosos. Toda mudança causa um friozinho na barriga e, claro, não deixa de existir uma ligação afetiva nossa com o Benfica”, afirma Mateus Perdigão, músico e um dos criadores do bloco. Apesar de o próprio Luxo ter pedido para sair do bairro, Mateus destaca que a convivência com os moradores do Benfica sempre foi positiva. “O crucial para a nossa saída foi mesmo o movimento de carros na rua Padre Francisco Pinto, que antes era secundária, mas com o desvio da avenida José Bastos passou a ser preferencial”, explica, ressaltando que a mudança não é necessariamente definitiva. “Não estamos definindo que vai ser pra sempre no Mercado”, pondera.

 

Em 2014, o Luxo já enfrentou indefinição sobre se continuaria no bairro boêmio ou não. A rua onde o palco era instalado é agora corredor para nove linhas de ônibus municipais, além dos intermunicipais que se dirigem para a rodoviária Engenheiro João Thomé. Além disso, o público do bloco crescia a cada ano e a rua estreita já não comportava a festa.

 

Moradora do Benfica, a bióloga Cristina Dyna se diz insatisfeita com a mudança. Para ela, o bloco trazia alegria para o bairro e o único problema vinha de “uns poucos foliões que não sabiam brincar saudavelmente”. “O Benfica já perdeu outros eventos culturais nesses últimos anos, por questões de falta de segurança, incluindo outros blocos, como o Unidos da Cachorra que ocorria na rua Marechal Deodoro”, lamenta.

 

Ano passado, um homem foi assassinado nos arredores da festa. À época, o coordenador da fiscalização da Secretaria Executiva Regional IV, Helio da Costa, afirmou ao O POVO que a morte não tinha relação com a apresentação do bloco.

 

Nova Casa

O Mercado dos Pinhões não foi a única opção para abrigar o Luxo. Os integrantes pensaram também em ocupar outras ruas do Benfica, mas logo se depararam com os mesmos problemas da rua Padre Francisco Pinto. A Praça do Ferreira também foi cogitada, mas eles concluiram que a estrutura para se apresentar no “coração de Fortaleza” teria de ser maior e mais custosa. A opção foi mesmo o Mercado, que já havia abrigado, inclusive, o Concentra Mas Não Sai, um dos blocos pioneiros do Pré e que é parceiro do Luxo.

 

“O Concentra já usou esse espaço por dois anos, 2004 e 2005. É um espaço diferente do Benfica, mas vai se um teste para o Luxo sair de um canto para outro”, afirma Marcus Vinicius Oliveira, o Marvioli, diretor do bloco que desde 2000 se apresenta em Fortaleza. Ele, que é pai de Mateus e Bruno Perdigão, fundadores do Luxo, lembra que o Concentra também passou por mudanças de local. “O público muda um pouco, mas o Mercado é um espaço maior, vai comportar bem o pessoal”, diz.

 

O servidor público Bruno Alves, folião do Luxo desde 2011, pondera que o bloco tinha crescido nos últimos anos. “Ano passado ficou muito além da capacidade da ruazinha. Nem de longe parecia com o bloco que eu conheci há alguns anos”, diz.

 

E o Carnaval?

“Carnaval é outra negociação. Não conseguimos autorização do Mercado para o Carnaval, só para o Pré”, afirma Mateus Perdigão. O músico diz que estão buscando outros locais pela cidade para realizar o quarto ano do Luxo no período momino. “Um passo de cada vez, a partir do próximo sábado, a gente já tenta acertar o Carnaval”, diz. Ano passado, mesmo sem apoio financeiro e estrutural da Prefeitura, o bloco se apresentou no bar Mambembe, na Praia de Iracema. Este ano, o Luxo foi contemplado pelo edital de apoio aos blocos de rua do Ciclo Carnavalesco, mas optou por concentrar a verba municipal nas apresentações das noites de Pré.

(O Povo)