Em todos os bairros de Fortaleza, a porcentagem do número de mulheres é maior que a dos homens. Os dados refletem uma realidade nacional, de acordo com o último Censo. Em 2010, a população feminina brasileira ultrapassou em 3,9 milhões a masculina. No entanto, não é a taxa de natalidade masculina que explica este fenômeno, pois nascem mais homens que mulheres (proporção de 105 para 100). A situação só muda quando, na faixa dos 20 anos, os homens estão mais expostos à violência e morrem mais jovens.
O bairro de Fortaleza com maior índice de mulheres é Estância (Dionísio Torres) com 57,63%, uma diferença de 15,26% em relação aos homens. O professor do departamento de Ciências Sociais da UFC e mestre em Antropologia pela UNB, Carlos Silveira, avalia que a disparidade entre os gêneros não é tão grande. “Em termos gerais, entendo que existe desequilíbrio, mas ainda é pouco. Isto pode estar vinculado a uma mudança no comportamento urbano, que tem a ver com a violência, o desemprego, a falta de oportunidades, que afetam bem mais os homens”. A busca por qualidade de vida também é uma preocupação maior entre as mulheres, de acordo com Silveira. “A procura por formação escolar e um maior grau de instrução talvez explique também porque o contingente feminino cresceu mais que o masculino”.
Mesmo em bairros periféricos, o número de mulheres subiu. No Dendê, por exemplo, há 50,06% mais mulheres que homens. Por outro lado, o mesmo bairro é onde mais cresceu o número tanto de homens quanto de mulheres, nos últimos dez anos. “A taxa de natalidade na periferia é bem maior do que nos bairros mais nobres”, explica Silveira. Mesmo assim, o índice de crescimento do número de mulheres no Dendê ultrapassou 5,18% a dos homens. “Nos bairros de melhor padrão urbano, a população feminina está mais protegida pelo estilo de vida que leva. Nos bairros mais afastados, há uma carência maior”.
Mortalidade masculina
A professora do Departamento de Economia Doméstica da UFC, Sande Maria Gurgel, explica que a mortalidade masculina decorre de vários fatores sociais até biológicos. “Já li pesquisas que atestam que o feto masculino é mais frágil que o feminino. A violência, os vícios, os acidentes de trânsito e até mesmo o estresse do homem, que tem o papel de provedor, podem afetar”. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero, Idade e Família (Negif-UFC), a pesquisadora pontua o aumento do número de famílias chefiadas por mulheres. “Quando há escassez de homens, elas se tornam chefes da casa e ocupam mais vagas no mercado de trabalho”.
Sande Maria recupera alguns dados estatísticos, publicados pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), que revela que, em 2010, a remuneração horária da mulher saltou de 1,8% para 12,7%, em Fortaleza, Salvador e Recife. Mas a maioria delas ocupam trabalho informal e empregos que rendem até um salário mínimo. “Como são profissões menos valorizadas, a renda delas aumentou”. A pesquisadora explica que os dados do censo podem dar maior visibilidade às mulheres. “Novas políticas públicas precisarão surgir para atender as mulheres, que estão se inserindo mais na sociedade, que brigam por emprego, melhores salários e igualdade de gênero. De certa forma, o aumento de mulheres também pode provocar maior competição no mercado de trabalho”.
Maior crescimento
de mulheres
Dendê 168,51%
Praia do Futuro I 127,37%
Salinas 99,13%
Parque Iracema 93,68%
Guararapes 77,26%
Cajazeiras 62,60%
Praia do Futuro II 56,05%
Mata Galinha 54,89%
Engenheiro Luciano Cavalcante 52,98%
Parque Presidente Vargas 50,46%
Maior redução de homens
Benfica -29,36%
Sabiaguaba -25,13%
Paupina -22,62%
Jangurussu -21,83%
Manuel Dias Branco -15,02%
Pedras -12,42%
Papicu -8,69%
Cristo Redentor -8,66%
Mondubim (sede) -6,63%
Pirambu -4,68%
NÚMEROS
57%
É A MÉDIA DA POPULAÇÃO FEMININA EM RELAÇÃO À MASCULINA NOS DEZ BAIRROS DE FORTALEZA ONDE HÁ MAIOR DISPARIDADE. DIONÍSIO TORRES E ALDEOTA LIDERAM
(O Povo Online)