Um milhão de pessoas a mais por semana. É esse o ritmo do crescimento das cidades do mundo. Em 1950, havia 86 cidades com mais de 1 milhão de habitantes; atualmente há 400. Naquele ano, Nova York era uma megacidade solitária no planeta; hoje há 25, dois terços delas concentrados nos países em desenvolvimento. Foram necessários 100 mil anos para que, em 2008, a população urbana – cerca de 3,4 bilhões – superasse a do campo. Mas em 2025 o porcentual da população urbana já será de 61%, segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU).
A parte mais vistosa desse processo de urbanização é a explosão das megacidades. Pela definição da ONU, as megalópoles têm mais de 10 milhões de habitantes em seus limites geográficos formais. E uma voracidade que cria manchas urbanas que podem englobar dezenas de municípios. Nas últimas décadas, a conurbação de São Paulo a Campinas, por exemplo, foi tão intensa que criou a primeira macrometrópole do Hemisfério Sul, superando as previsões de que Lagos, na Nigéria, chegaria antes.
Nas próximas décadas, nada deverá frear o Terceiro Mundo como o maior gerador de megalópoles. A indiana Mumbai saltou do 14o lugar no ranking mundial em 1975 para 4o em 2007 e será, em 2025, a 2a megacidade da Terra, com 26,3 milhões de habitantes. No ano passado, Karachi, no Paquistão, entrou direto no 12o lugar, com 12,1 milhões; o mesmo ocorreu com Istambul, na Turquia, Lagos, na Nigéria, e Guangdong, na China. Já o clube das megacidades do Primeiro Mundo tende à estabilização. Em 1975, Paris era a 7a mancha urbana do mundo, com 8,5 milhões de habitantes. Em 2005, já tinha caído para a 21a posição e em 2025 será a 23a, com 10 milhões. Londres, megacidade do século 19, deixou o grupo, porque cresceu muito menos que as outras.
São Paulo está exatamente entre esses extremos. No passado, cresceu desmesuradamente em meio a dois choques de petróleo, à crise da dívida externa e à hiperinflação. Em 1975, já ocupava o 5o lugar no ranking de cidades mais populosas. Foram anos terríveis para o processo de urbanização. Em 1970, 1 em cada 100 paulistanos vivia em favelas, segundo dados da Prefeitura. Em 2005, os favelados eram 1 em cada 5 moradores da cidade. Os empregos de massa, o principal ímã de atração populacional, sumiram. A indústria, que gerava 40% dos postos de trabalho na capital em 1980, teve sua participação encolhida para 15% em 2004 e a tendência continua de queda.
O modelo de urbanização (ou a falta dele), com o inchaço das periferias, obrigou São Paulo a conviver com problemas gigantescos. Morar longe do trabalho, e sem contar com transporte eficiente, cria um trânsito infernal que insulta a idéia de cidade organizada. A oferta de água segue perigosamente limitada. A poluição lança seguidas advertências. A violência, apesar de ter despencado, ainda assusta a população e a elite dos negócios. A Grande São Paulo, como outras regiões metropolitanas de porte, é o “lugar geométrico dos problemas”, define o governador José Serra, em artigo publicado nesta edição, “o espaço sobre o qual convergem com intensidade máxima desemprego, poluição, trânsito, violência, déficits de transporte público, saneamento, saúde e ensino básico de qualidade”. Há soluções à vista, mas elas dependem da atração de capital privado e externo: pelo menos R$ 176 bilhões seriam necessários para resolver os gargalos de infra-estrutura só da capital.
A boa notícia é que São Paulo vem crescendo menos. Em 2025, quando o planeta das megacidades terá uma cara terceiro-mundista, ela estará no mesmo 5o lugar, com 21,4 milhões de habitantes. Rio, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre seguem na mesma trilha e registraram aumento demográfico menor que o da média nacional, de 1,6%, nos anos 1990. Pesquisa do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo indicou que só 38% dos novos moradores se instalaram nos grandes centros nessa década, ante os 60% registrados nos anos 1970 e 1980.
Além do crescimento demográfico menor, São Paulo mantém o poderio econômico. A migração das indústrias – característica das metrópoles do Primeiro Mundo como Nova York, Londres, Frankfurt e Tóquio – ocorre porque as fábricas exigem terrenos grandes, e eles são mais baratos no interior. Mas o comando estratégico permanece na cidade, onde há tecnologia e mão-de-obra especializada. Cerca de 90% das atividades industriais do Estado ainda estão no quadrilátero Grande São Paulo, Campinas, São José dos Campos e Baixada Santista. É uma expansão absolutamente natural.
Nos últimos 30 anos, a megacidade venceu a disputa com Buenos Aires e Rio e se tornou a cidade global por excelência na América do Sul. Reúne qualidades que tornam metrópoles referências para a elite dos negócios internacionais: é o grande centro financeiro do continente, a principal conexão da malha aérea do País, tem excelente oferta de assistência médica, é cercada por universidades e pólos de pesquisas, desenvolveu uma ampla estrutura de telecomunicações e serviços de apoio a negócios.
São Paulo venceu porque foi melhor e as concorrentes fracassaram. Buenos Aires foi tragada pela crise econômica argentina e o Rio, pela imagem negativa do crime organizado. A consagração da hegemonia foi a transferência das negociações com ações da Bolsa do Rio para a de São Paulo, em 2000.
Redução do crescimento demográfico, controle da inflação, economia do País em trajetória ascendente e orçamentos públicos que estão deixando de ser peças de ficção. Graças a esses fatores, pela primeira vez em décadas São Paulo retomou a capacidade de planejar seu futuro. Em abril, foi sede da 1a Conferência de Regiões Metropolitanas, promovida pela Associação Metrópolis, que sustenta discussões permanentes sobre megacidades. Em dezembro, receberá o Urban Age, grupo criado pela London School of Economics (LSE) que reúne alguns dos maiores pensadores urbanos do mundo – entre eles a socióloga americana Saskia Sassen, criadora do conceito de cidades globais, entrevistada nesta edição.
Concebido para discutir soluções para as megacidades, o Urban Age estudou os casos de Nova York, Londres, Cidade do México, Mumbai, Xangai, Berlim e Johannesburgo. Os especialistas da LSE já vêm a São Paulo desde 2005. Conheceram favelas (Paraisópolis e Heliópolis, zona sul), a periferia (Cidade Tiradentes, zona leste) e cidades da região metropolitana (Osasco e Guarulhos). Gostaram do que viram, segundo Maria Helena Gasparian, assessora de Relações Internacionais do governo estadual. “Eles se entusiasmaram com alguns aspectos da vida em São Paulo, como as políticas de reurbanização de favelas e a oferta de alimentos de qualidade por toda a cidade, mesmo em feiras livres e açougues da periferia”, conta. “Disseram que costumamos exagerar os defeitos de São Paulo, mas somos experts em manter nossos sucessos em segredo.”
Outro motivo de otimismo em relação ao futuro não diz respeito só a São Paulo, mas a todas as megalópoles. De vilãs ambientais, elas agora são vistas como aliadas na luta pela sustentabilidade, por concentrar uma população que, dispersa, disputaria espaço com a biodiversidade na natureza. “Boas cidades são parte da solução”, diz o brasileiro Oliver Hillel, coordenador do programa de Biodiversidade e Cidades da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas, entrevistado nesta edição. Para ele, ter uma São Paulo na Amazônia facilitaria a preservação da floresta. “Do ponto de vista do uso dos recursos naturais, é melhor ter uma cidade com 10 milhões de habitantes do que dez com 1 milhão.”
(Estadão Online)
Prezados
para evitar equívocos: o Urban Age, discussão urban´stica realizada pela Alfred Herrhausen Society, fundação do deutsche Bank com o apoio da LSE (London School of Economics) foi realizada em S.Paulo em dezembro de 2008.
Toda a documentação desta confer~encia pode ser encontrada neste link
http://www.urban-age.net/03_conferences/conf_saoPaulo.html
Se precisarem de mais alguma ifnormação, me avisem
Bia Bansen