RIO – A seleção da Alemanha Ocidental pode ter recebido a ajuda de um programa secreto de doping para ser campeã do mundo em 1954, derrotando a favorita Hungria na final, no título que simbolizou o renascimento do país – então dividido – após devastação causada pela Segunda Guerra Mundial. A denúncia, que não é a primeira sobre o assunto, veio através de um estudo da Universidade de Humboldt, em Berlim. Na decisão da Copa da Suíça, a Alemanha surpreendeu o mundo ao superar a Hungria por 3 a 2, após ter perdido por 8 a 3 na primeira fase, no que foi considerado o Milagre de Berna.


– Existem fortes indicações que apontam para a injeção de pervitin (metanfetamina) em alguns jogadores da Alemanha Ocidental e não vitamina C, como dito anteriormente – afirmou à agência de notícias Reuters o historiador esportivo e escritor Erik Eggers, que conduziu o estudo como parte de uma equipe da Universidade de Humboldt.

O pervitin era um conhecido estimulante da época, tendo, inclusive, sido usado em larga escala por soldados alemães durante a Segunda Guerra para evitar a fadiga excessiva. Membros da delegação alemã sempre garantiram que injetaram apenas vitamina C durante o Mundial. Na época, não havia testes antidoping.

Eggers estuda o caso há anos e seu relatório parte de um projeto maior, chamado “Doping na Alemanha”, lançado pelas autoridades esportivas do país para estudar casos de doping em atletas.

– O pervitin era muito usado na época em muito esportes. As anfetaminas também tinha seu uso disseminado, inclusive entre jogadores da América do Sul. O que é mais suspeito é que as injeções foram dadas nos jogadores secretamente. E aqueles que as receberam contraíram icterícia. A indicação mais importante, no entanto, é que a vitamina C não é injetável. Isso é muito pouco comum. Se quisessem vitamina C, poderiam ter apenas comido laranjas.

A Federação Alemã de Futebol preferiu não comentar as de denúncias. Já União dos Esportes Olímpicos da Alemanha (DOSB), que lançou o projeto sobre doping junto com as autoridades, afirmou apenas que está ciente das conclusões de Eggers:

– Tenho em mente de que são indicações e não provas – afirmou o órgão em comunicado.

A maioria dos alemães considera o título de 1954 como o trampolim para mudar o estado espírito do país e ser o embrião do “milagre alemão”, nas decadas seguintes, com um forte crescimento econômico.

(O Globo)