Uma lente nos resultados das eleições presidenciais em alguns estados e capitais oferece mais qualidade nas análises. Sem atentar para a realidade que os números oferecem, acaba prevalecendo o superficialismo.
Vejam o caso do Ceará em comparação com dois outros importantes estados da Região Nordeste. Aqui, em Pernambuco e na Bahia, uma circunstância política idêntica: os governadores desses estados (todos reeleitos no primeiro turno) e os prefeitos de suas capitais apoiaram Dilma Rousseff.
No Ceará, Dilma terminou a eleição com 66,3%, Marina (PV) 16,36% e Serra (PSDB) – incrível, a diferença entre Marina e Serra aqui foi de somente 121 votos a favor do tucano. Dilma pontuou melhor que o próprio Cid Gomes (PSB), governador reeleito com 61,27%. Vamos a Pernambuco. Lá, o governador Eduardo Campos (PSB) recebeu 82,84%, 21 pontos percentuais a mais que Dilma (61,74%). Portanto, a votação de Dilma no Ceará foi melhor que a obtida em Pernambuco, terra do presidente Lula e terra muito aquinhoada por grandes projetos do Governo Federal. Na Bahia, Jacques Wagner (PT) foi reeleito com 63,83%, resultado muito próximo ao obtido por Dilma (62,62%). Serra teve 20,98% e Marina 15,74%. Trocando em miúdos, entre os três estados, o Ceará foi o mais generoso com Dilma.
A VARIÁVEL INCONTROLÁVEL
Vamos ao caso das capitais. Em Fortaleza, Dilma obteve 50,72% dos votos. Bem mais que os 42,92% que a petista recebeu em Recife, cidade administrada há dez anos pelo PT. Lá, Marina obteve 36,73% dos votos, um dos maiores índices entre as capitais brasileiras. Serra ficou com 19,46%, mais que os 16,08% do tucano em Fortaleza.
Descendo para Salvador, Dilma recebeu 53,81% dos votos contra os 30,21% de Marina e 14,77% de Serra. Portanto, o melhor desempenho de Marina e o pior de Dilma se deram justamente na capital pernambucana onde se supunha que a petista tinha mais força e condições políticas favoráveis. Isso ocorreu por culpa dos coordenadores da campanha de Dilma em Recife? Isso se deu por culpa de Eduardo Campos que não foi capaz de transferir sua imensa votação para a petista? Ou por culpa do prefeito petista de Recife? Não, claro que não. Buscar culpados locais ocorre ou por ignorância ou por trapaça política. Ou pelos dois motivos. O que aconteceu nos estados e principalmente nas capitais foi uma onda favorável à Marina Silva. Tal processo se desencadeou praticamente no dia da eleição e não havia forças capazes de impedir que ocorresse assim. Tudo se deu fora do alcance de qualquer líder político, inclusive o maior deles: Lula.
(O Povo Online)