Enquanto o regime chinês segue sem oferecer uma lista de mortos do massacre de estudantes da praça da Paz Celestial, que completa 21 anos hoje, uma ONG publicou uma pesquisa independente que reúne os nomes e sobrenomes de 195 falecidos.
A organização Human Rights in China (HRIC) enviou hoje a tradução da investigação realizada pelo dissidente Jiang Qisheng, chamada “Relatório independente da situação das vítimas do massacre do dia 4 de junho”, como ficou conhecido na China.
O relatório cita nomes, sobrenomes e a idade de 195 mortos, e fornece informações de outras 57 vítimas que ficaram feridas ou paraplégicas no ataque do Exército contra estudantes e operários na noite do dia 3 e na madrugada do dia 4 de junho de 1989 em Pequim.
A vítima mais jovem se chamava Lu Peng e tinha nove anos: as tropas do Exército dispararam contra seu peito em torno da meia noite e ela morreu no ato; a mais velha era Zhang Fuyuan, assistente hospitalar aposentado de 66 anos e membro do Partido Comunista, que estava vigiando um centro acadêmico.
Qisheng terminou sua compilação ano passado, a partir da base de dados do grupo Mães da praça da Paz Celestial, que reúne mais de uma centena de familiares de mortos, feridos e desaparecidos e que, segundo elas, supõe uma pequena parte do número total de mortos, que estaria entre dois mil e três mil.
Além disso, o autor incluiu os mais de 800 manifestantes que foram enviados a “campos de reeducação trabalhista” devido a sua participação nos protestos em que pediam reformas democráticas e o fim da corrupção dos funcionários, um mal que afeta à cúpula do regime.
O objetivo de Qisheng é “restaurar a verdade histórica e buscar justiça”, já que o regime chinês ainda se nega a assumir responsabilidades, a publicar uma lista de mortos, compensar às vítimas e processar os responsáveis políticos, entre eles o ex-primeiro-ministro Li Peng, que segue vivo.
Massacre
Na noite de 3 para 4 de junho de 1989, o Exército Popular de Libertação chinês disparou contra manifestantes na praça Tiananmen – ou da Paz Celestial. O drama estava há seis semanas em gestação.
Durante 46 dias, os estudantes, aos quais se juntaram progressivamente operários, funcionários e vendedores, acamparam na praça, bem no centro de Pequim, pedindo reformas no regime.
Entre 400 e 3.000 pessoas teriam sido mortas no confronto de junho, um número não esclarecido porque Pequim não assume responsabilidades e censura toda e qualquer informação relacionada por considerá-la segredo de Estado.
Grupos de direitos humanos como HRIC pedem às autoridades que abram uma investigação oficial e que compensem às vítimas.
O massacre da praça da Paz Celestial, pelo qual a maioria dos dissidentes políticos responsabiliza o então líder “de fato”, Deng Xiaoping, continua sendo um dos assuntos mais delicados para o regime do Partido Comunista, que justifica a repressão em prol do desenvolvimento econômico.
(Folha Online)