São Paulo (AE) – A compra de 51% do banco argentino Patagônia pelo Banco do Brasil (BB) por US$ 480 milhões, anunciada na quarta-feira após meses de negociações, foi vista pelo mercado como um movimento positivo estratégico para o banco brasileiro, que finca sua bandeira em um país estrangeiro pela primeira vez. No entanto, o impacto trará poucos efeitos nos resultados da instituição em razão do pequeno porte do Patagônia.
De acordo com cálculos da Link Investimentos, o Patagônia representa cerca de 2% do valor de mercado do BB, 0,6% do total de ativos e 0,7% da carteira de crédito. O negócio também não se refletiu nas ações do banco, que hoje acompanham o movimento do mercado.
Apesar do pequeno porte, os analistas que acompanham o setor financeiro avaliam que a compra do Patagônia sinaliza a disposição do banco brasileiro em se internacionalizar. A expectativa é de que o BB dê continuidade a esta estratégia, com outras aquisições nos Estados Unidos e América Latina, o que é positivo, uma vez que o mercado brasileiro já é bastante consolidado. “O Brasil tem um mercado maduro e a internacionalização abre os horizontes do banco”, disse o analista da Corretora Geração Futuro, Felipe Ruppenthal.
O banco declarou que iniciou prospecções no Chile, Peru, Colômbia e Uruguai, além de ter recebido o aval do Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, para operar instituição financeira plena nos Estados Unidos, em resposta a pedido feito há cerca de um ano.
De acordo com o analista do banco Sicredi, Carlos Kochenborger, a internacionalização é uma tendência em todos os grandes bancos brasileiros porque existem menos opções no mercado interno. “É um movimento natural e deve se iniciar pela América Latina”, afirmou. Na opinião do especialista, o baixo grau de bancarização da Argentina, provocado pelas várias crises já enfrentadas pelo país, pode ser uma oportunidade para o banco brasileiro. “O controle federal do BB traz credibilidade”, disse. Ele destacou, no entanto, que a desconfiança dos argentinos em relação ao sistema financeiro está mais ligado ao governo e suas medidas do que aos bancos propriamente ditos.
De acordo com os analistas, o preço pago pelo negócio não foi considerado caro. Segundo Ruppenthal, a relação entre o preço pago e o valor patrimonial do banco é de 1,95 vez, valor que fica entre os bancos médios brasileiros (que variam entre 1 e 1,6 vez) e os grandes bancos (entre 2 e 2,2 vezes). De acordo com relatório divulgado hoje pelo Barclays, o negócio parece ter sido realizado com uma avaliação justa.
Apesar disso, o Barclays destacou que a aquisição pode ser um “fator de distração” para o BB. “O negócio não muda a dimensão do banco e demanda atenções da diretoria, ainda concentrada na integração da Nossa Caixa”, afirmou. Conforme o relatório, seria mais vantajoso para o banco se concentrar no aumento da rentabilidade no Brasil. O Barclays se mostrou preocupado com a estratégia de internacionalização do BB porque pode trazer uma contribuição pequena e devido à inexperiência do BB em integrar aquisições fora do Brasil.
(Tribuna do Norte)