Se a construção da imagem de Lula remonta a Garanhuns (PE), a de Marina Silva tem sua origem numa comunidade de 120 pessoas sem carro e sem energia elétrica, que sofre a ressaca da crise da borracha.

O Seringal Bagaço está a apenas 40 km de Rio Branco (AC), mas o acesso é precário. A estrada de terra que vem da capital termina no rio Acre e, de lá, só de barco se alcança o local de onde a senadora e agora pré-candidata à Presidência saiu aos 16 anos, analfabeta.

Marina é heroína local, mas o apoio de que ela desfruta na pequena comunidade rural não é unânime como o de Lula no agreste pernambucano.

A admiração pela filha da terra é dividida com a gratidão ao presidente, cujo governo fornece Bolsa Família e promete a chegada do Luz para Todos para ainda este ano.

A lembrança da senadora é difusa. Marina saiu há 35 anos e nunca mais voltou até fevereiro deste ano, prometendo ajuda numa disputa com o Banco do Brasil pela titularidade de parte das terras. Nenhum parente dela ficou na comunidade.

Ao anunciar sua saída do PT, Marina comparou a experiência ao dia em que deixou o seringal para estudar na cidade.

“Nunca esperava que ela virasse senadora. Mas quando Deus quer, Deus realiza. Se Deus quiser, vai ser presidente”, diz Maria da Costa Santos, 62, uma das poucas a dizer que se lembra de Marina quando criança. “Ela era magrinha, mas ajudava o pai na roça. Uma menina muito esperta.”

Numa manhã de frio, em que moradores recebiam filtros e cobertores da Prefeitura de Rio Branco, a candidatura de Marina e sua relação com Lula dividiam opiniões.

“Sair do PT foi o que o coração dela pediu e o que Deus decidiu. Ela é serva de Deus, ela segue o que Deus decide”, diz Maria do Carmo Araújo, que preside a associação dos moradores. “Mas, se não fosse o presidente, ela não teria chegado onde chegou.”

É interrompida por Josinaldo Ferreira, 45, um fã incondicional da senadora. “Não foi o Lula. Foi a capacidade dela. Ela foi senadora antes de o Lula ser presidente.”

Como muitos seringais no Acre, o Bagaço foi pego de surpresa pela queda no preço da borracha. A extração do látex parou há dez anos nas “colocações”, como são chamados os locais de coleta. Agora, sobrevive-se da pequena agricultura e da coleta da castanha para venda na cidade.

Hoje, com o fim da atividade seringueira, a fonte de renda no fim do mês não é mais assegurada, mas há compensações. Existem barcos para cruzar o rio, um caminhão para levar à cidade e escola para as crianças.

Todos vivem em casas de madeira suspensas um metro do chão por estacas. Alguns moradores têm TVs, movidas a gerador enquanto a luz não chega, e por isso já se sabe que a preferida de Lula é uma senhora que alguns chamam de “Dilma Houssein” _na verdade, Rousseff, ministra da Casa Civil.

Muitos simpatizam. “Se a candidata do Lula for essa Dilma, é nela que eu voto. A Marina vai se queimar. É partido novo o dela, vai demorar 20 anos para crescer”, diz Antônio Carlos de Menezes, 59.

Fonte: Folha Online