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O democrata Barack Obama afirmou na noite desta terça-feira que nos Estados Unidos tudo é possível. O discurso foi apropriado à sua vitória como o primeiro presidente negro do país eleito em uma votação de participação recorde e que mudou o tradicional mapa eleitoral americano –como a Virgínia, que não votava em um democrata nos últimos 40 anos.

Obama, que ressaltou em seu discurso que os EUA podem mudar sua história, criou um novo capítulo na política americana com uma vitória esmagadora, marcada pela participação de quase 66% dos 153,1 milhões eleitores registrados para as eleições presidenciais deste ano.

Segundo as estimativas do site Real Clear Politics, isso significa a maior taxa de participação desde 1908, quando restrições impediam todos os americanos de votar. A porcentagem bateria também o recorde histórico recente, de 1960, quando 64,9% do eleitorado foi às urnas na disputa entre John Kennedy e Richard Nixon. Nas eleições de 2004, o número de registrados era de 142,1 milhões, das quais 63,8% compareceram às urnas.

“Foi uma longa campanha, mas, nesta noite, por causa do que nós fizemos neste dia, neste momento definidor, a mudança chegou à América”, disse Obama, 47, a mais de 200 mil apoiadores que acompanharam sua festa da vitória no Grant Park, em Chicago.

Leia a íntegra do discurso de Obama

E o comparecimento recorde de americanos, que se mostraram dispostos a enfrentar longas filas e problemas nas urnas, deu a Obama uma vitória arrasadora, como não se via nos EUA desde 1996, com a reeleição do popular e também democrata Bill Clinton.

O democrata necessitava de 270 votos no colégio eleitoral para ganhar as eleições presidenciais, uma marca que superou por ampla margem, ao obter no total ao menos 342 votos, frente a 143 de seu adversário, o republicano John McCain, em um pleito histórico para os EUA. Clinton derrotou o republicano Bob Dole com 379 votos no colégio eleitoral frente a 159 de seu rival.

No sistema eleitoral indireto dos americanos, a votação popular deve ser confirmada pelos representantes do colégio eleitoral –538 divididos pelos Estados de acordo com sua população. Estes representantes, chamados de eleitores, podem ou não confirmar o voto dos eleitores populares.

Assim, Obama entra para a história presidencial americana ao lado Ronald Reagan (1981-1989) e com Franklin D. Roosevelt (1933-1945), como um dos poucos presidentes a conseguir um “landslide”, um termo que significa algo como “ganhar por goleada”.

Mapa eleitoral – O comparecimento recorde de eleitores permitiu a Obama redesenhar o mapa eleitoral dos EUA. Com uma estratégia de manter a disputa em todos os 50 Estados, a campanha democrata ignorou os tradicionais redutos republicanos e investiu seus mais de US$ 600 milhões arrecadados em uma intensa agenda de comícios e propagandas em todo o país.

Sua principal conquista desta noite foi a Virgínia, Estado onde os republicanos ganharam todas as disputas nos últimos 40 anos e que era vista por analistas como a prova definitiva da vitória democrata nas urnas desta terça-feira. Na eleição passada, o republicano George W. Bush venceu o democrata John Kerry por uma margem de nove pontos percentuais.

A vitória de Obama no Estado não foi esmagadora, 51,8% a 47,3%, mas provou a maior eficiência da campanha democrata e o entusiasmo gerado nos jovens eleitores de todo o país.

Mas os primeiros sinais concretos da derrota do republicano McCain vieram com a vitória de Obama na Pensilvânia, Estado com maioria branca de eleitores –um grupo que favoreceu o republicano nas pesquisas durante toda a campanha. No final, o senador democrata levou 54,6% das intenções de voto contra 44,3%.

Obama ganhou ainda em Ohio, Estado sem o qual nenhum republicano foi eleito presidente em toda a história do país. Considerado indefinido na média de sondagens do instituto Real Clear Politics na véspera da eleição, acabou elegendo o democrata que tem 51,2% contra 47,2% de McCain, com 965 das urnas apuradas.

A vitória de Obama no Estado foi impulsionada pelo seu apoio entre os operários e pela imagem de candidato mais capaz a resolver a crise financeira nos EUA –motivo aliás apontada como central à sua vitória nacional.

O democrata deve vencer também, embora somente 87% das urnas tenham sido apuradas, no Colorado. O Estado, que apoiou o republicano Bush por cinco pontos percentuais, é um dos mais representativos do meio-oeste americano, região histórica de grandes redutos republicanos.

Maioria –  Obama assume a Casa Branca em 20 de janeiro fortalecido não apenas pela vitória esmagadora, mas pelo controle dos democratas no Congresso.

Como previsto pelas pesquisas, o partido teve uma vitória relativamente tranqüila sobre o Partido Republicano na votação para a renovação da Câmara dos Deputados e para as 35 cadeiras do Senado.

Os democratas levaram pelo menos cinco novos senadores que antes eram ocupadas por republicanos, aumentando a maioria do partido na casa para 54 contra 40 republicanos. Na Câmara, eles já ultrapassaram a maioria de 235 cadeiras que já ocupavam, enquanto as projeções continuam sendo realizadas.

Os analistas são unânimes em apontar o fortalecimento do governo de Obama diante de uma maioria que, até mesmo pelo bem da imagem do partido, deve aprovar facilmente as medidas que o novo presidente lançar.

“Se pessoas ainda têm dúvidas de que a América é o lugar onde as coisas são possíveis, que ainda acreditam que o sonhos dos nossos fundadores ainda estão vivos, se ainda questionam o poder da nossa democracia, esta noite é a sua resposta”, resumiu Obama.

Fonte: Folha On Line