O PMDB é um problema e uma solução para a política brasileira. Sua existência tem assegurado a estabilidade de todos os governos pós-Collor. Mas, digamos, é uma estabilidade instável, a custa de pressão permanente, fatura alta. Muitas vezes, fisiologismo. Não raro, alguns escândalos. A preocupação do governador Cid Gomes (Pros) se justifica em querer criar um contraponto. Estabelecer uma força política que contrabalanceie a importância peemedebista. Mas a tese tem um problema central: o bloco partidário ou a fusão de siglas, como pretende Cid, seria composta basicamente por quem já integra a base governista. O governador cearense até acredita que possa atrair gente de PSB e Psol. Precisará mesmo. Sem novas adesões em quantidade significativa, o governo seguiria dependente do PMDB, mas precisaria negociar com outra grande força para conseguir aprovar seus projetos.

 

Salvo quando há uma grande rebelião, atualmente, os peemedebistas dão ao governo certa tranquilidade de que a dissidência de dois ou três pequenos partidos não representa risco de derrota. Se forem formados dois blocos grandes dentro das fileiras governistas, qualquer deles que não vote em uma proposta inviabilizará a aprovação. Para o governo, será como se houvesse dois PMDBs, e não apenas um.

 

A ideia resolve mais o problema político de Cid Gomes, que se vê em um nanico de pouca relevância e tempo de TV, que o de Dilma.

 

A DEPENDÊNCIA DE DILMA DO PMDB

A coligação de Dilma elegeu 304 deputados. Para aprovar uma emenda constitucional, são necessários 308 votos. Mas isso não deve ser um grande problema. Os partidos que farão oposição de qualquer jeito à presidente – PSDB, DEM, PPS e Psol – elegeram 91 deputados. Chegam a 125 com a disposição do PSB de também ser opositor. Com isso, restam 84 parlamentares de legendas, digamos, “dialogáveis”. Pequenos e médios que, a depender dos “agrados”, votam facilmente com os governos. O PTB é o maior deles. Há ainda Solidariedade, PSC, PV, PHS, PTN, PMN, PRP, PEN, PSDC, PTC, PRTB, PSL e PTdoB.

Desses, o máximo que combinaria com o perfil “de esquerda” que Cid pretende para a nova força política seria o PV, que hoje está mais para oposição. O partido lançou Eduardo Jorge a presidente e, no segundo turno, apoiou Aécio Neves (PSDB). De qualquer forma, tem oito deputados federais eleitos. Algo longe de bastar para o governo poder dispensar os 66 votos peemedebistas.

 

O PESO NO SENADO

No Senado, a importância do PMDB é ainda maior. O partido terá 19 senadores. Poderão ser 18 se Garibaldi Alves, hoje ministro da Previdência, continuar licenciado – seu suplente é do PV. A aprovação de emenda constitucional exige 49 votos de senadores. A coligação de Dilma terá 53 (ou 52). Sem o apoio peemedebista, não teria nem maioria simples. Nem mesmo se atraísse os cinco membros de partidos que não apoiaram a presidente, mas são potencialmente adesistas (PTB, SD e PSC). Não aprovaria emenda à Constituição nem com a adesão de todos esses cinco e mais os seis do PSB, que anuncia posição de “independência”.

No Senado, para aprovar emenda à Constituição, ou o governo conta com os votos do PMDB, ou precisará de apoio de PSDB ou DEM. Sem isso, a conta não fecha.

 

A DIFERENÇA NO MODO DE FAZER POLÍTICA

A diferença entre o PMDB e essa outra grande força seria, então, a forma de fazer política. Mas, isso depende muito. De Cid, realmente, pode-se esperar tal postura. Desde o início do governo Lula, não há notícia de que os irmãos Ferreira Gomes tenham feito barganha ou pressão por cargos federais ou benesses. Porém, o mesmo não se pode dizer nem da cúpula do seu partido – o Pros. Que dirá daqueles que vier a atrair para seu lado. Cid, por exemplo, critica o PMDB por ser um “ ajuntamento de seções regionais sem nenhuma identificação entre eles”, cujo interesse que os une é chantagear o governo. Tem razão. Mas, também, que laço de unidade haverá entre os grupos de diferentes partidos que o governador pretende reunir? Além de apoiar o governo, é claro.

(Érico Firmo, O Povo Online)